Chilume “cura feridas da guerra” com projectos sustentáveis

A Missão Evangélica de Chilume tornou-se, este ano, o ponto de partida, do município do Bailundo (Huambo) para a “cura das feridas provocadas pela guerra”com a promoção de projectos sustentáveis nos domínios socioeconómicos.  

 Por Marcelo Frank Béu, Jornalista da ANGOP

 No limiar dos 50 anos de independência nacional, o chefe de Inteligência e Segurança Militar, general João Pereira Massano, ofereceu-se para participar nestes desafios de “cura das mágoas deixadas pelos conflictos armados “ com o redimensionamento de vários projectos e programas, para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Começou este percurso no sector da educação com a construção de uma unidade escolar composta por sete salas, onde estudam actualmente perto de 700 crianças que frequentam o ensino primário, num projecto conjunto elaborado com a Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), comprometida com a formação e a moralização da população em busca do bem-estar.

Nesta perspectiva, a manutenção da segurança pública é garantida por um dispositivo policial instalado na Missão Evangélica de Chilume, também com infra-estruturas adequadas, com o propósito de se manter a circulação de pessoas e bens, assim como o envolvimento da população nas políticas públicas planificadas pelo Governo, para a dinamização permanente do bem-estar nesta região do Planalto Central.   

O general João Pereira Massano disse que tem feito esforços na divulgação da localidade do Chilume para que seja conhecida a nível nacional e internacional, e consequentemente conseguir cumprir com a sua missão relacionada com o fomento e a promoção do desenvolvimento desta localidade, que assistiu vários momentos difíceis durante os intensos conflictos armados no país.  

Sobrevivente de uma emboscada nesta localidade, visivelmente comovido, prometeu tudo fazer para abrir “ a estrada” do progresso e honrar a memória das famílias missionárias valentes do Chilume que cooperaram na protecção dos interesses maiores da vida humana e a defesa dos princípios patrióticos.

“ A minha missão fundamental é divulgar o Chilume e vamos fazer aqui muitas coisas. Eu tenho mobilizado muito esforço no sentido de se trazer o desenvolvimento nesta região do município do Bailundo”, acrescentou emocionado.

Disse que destacou já uma delegação chinesa para avaliar as áreas onde serão construídas infra-estruturas sociais e económicas na localidade, para iniciar uma nova era histórica, mais focada no perdão, reconciliação e a pacificação contínua daquela comunidade cristã tutelada pela IECA.

Sem especificar os projectos sustentáveis por si definidos, evidenciou apenas que já alinhou vários programas, para melhorar as condições de vida das populações da comunidade cristã do Chilume, e o município do Bailundo no seu todo.

O vice-governador para sector Político, Social e Económico da província do Huambo, Angelino Elavoco, convidou os empresários nacionais e estrangeiros a se juntarem nestas estratégias de estimulação do progresso socioeconómico, numa altura em que o país completa 50 anos de independência nacional no próximo dia 11 de Novembro deste ano, cuja efeméride relembra a fundação da nação angolana.

Sinalizou que todos os angolanos devem replicar o exemplo patriótico do general João Pereira Massano, porque a transformação do país passa pelo contributo e desempenho de cada cidadão, bem como a participação activa nas políticas públicas elaboradas pelo Governo.

Realçou que o Governo da província do Huambo está aberto e recebe qualquer projecto sustentável, para que, num esforço conjunto, se consiga superar as dificuldades nas comunidades e, ao mesmo tempo, construir um “tecido empresarial”empolgante capaz de ter um crescimento ininterrupto.

Na ocasião o secretário da IECA da província do Huambo, Reverendo Gilberto Jamba Ndunduma, reconheceu os esforços do general João Pereira Massano que tudo faz em prol da Missão Evangélica do Chilume, que vive momentos satisfatórios em termos de progresso social desde 2022, onde as famílias mais necessitadas têm sido confortadas com vários apoios essenciais para uma vida digna na comunidade.

Considerou que a localidade do Chilume tem uma infra-estrutura escolar moderna que responde às necessidades actuais, por isso, este modelo deve ser amplificado nas distintas regiões da província do Huambo, para se alcançar a qualidade de ensino e recursos humanos competentes para a transformação do país.

Enfatizou que, nesta época da inteligência artificial, o investimento no sector da educação e a formação séria são pressupostos recomendados para a construção contextual dos planos estratégicos de desenvolvimento sustentável.

Missão Evangélica do Chilume e a génese histórica da IECA no país

A Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA) foi fundada no dia 11 de Novembro de 1880, por missionários enviados pela junta americana de comissários para as missões estrangeiras, neste contexto, foram seleccionadas as regiões das províncias do Bié e Cuanza, para a implantação da congregação religiosa.

Passados vinte dias, os missionários chegaram ao município do Bailundo (Huambo), que era um dos reinos Mbundu, cerca de 144 quilómetros da província do Bié.

A comitiva religiosa era composta pelos missionários Willian Gagster (chefe da expedição), o reverendo Willian Henry Sanders (filho de pais missionários) e Samuel Taylor Miller (professor e primeiro missionário negro em Angola) com uma caravana de 95 pessoas, partiram a pé para o município do Bailundo.

O rei Ekuikui II do Bailundo recebeu os missionários americanos com cordialidade, enquanto o rei do Bié, impaciente, enviou o seu secretário de “Estado” para oferecer hospitalidade aos religiosos americanos.

A Missão de Chilume surgiu para a promoção de desafios concentrados na formação académica, moralização e outros ofícios para a promoção socioeconómica da população angolana. 

Projecto religioso em Angola e os caminhos da evangelização

O objectivo da missão, tal como tinha sido estipulado pela junta, em Boston (Estados Unidos da América) era alcançar as regiões actuais das províncias do Bié e Cuanza, mas os missionários chegaram à conclusão de que o município do Bailundo seria o ponto de partida, para além ser mais do que simples local de passagem e o caminho para alcançar a localidade do Cuito (Bié).

Samuel Taylor Miller começou, nesta época, a construir uma escola, tendo conseguido juntar alguns alunos e dedicou-se com os estudos da Língua Umbundu, transportando-a para escrita aquilo que era essencial para se pregar o Evangelho e implementar a igreja entre os Ovimbundos, sobretudo, na região do Centro do país.

Solicitaram instalações, um espaço para a realização de projectos religiosos e assim, foi aberta a missão de ensinar o povo a ler e escrever a língua nativa, na região do Chilume, transformando-se num centro Evangélico.

Nesta Missão do Chilume, foram formados milhares de pessoas com perfis para servirem como professores, enfermeiros para os hospitais, centros evangélicos, promotores de saúde comunitária nas aldeias e catequeses, assim como implementar programas de melhoramento das condições socioeconómicas da população.

Estes profissionais estavam engajados essencialmente na promoção do desenvolvimento comunitário multifacetado, razão que levou o Governo português a valorizar os técnicos que ganharam habilidades através da Missão Evangélica do Chilume destacada no município do Bailundo.

Estes profissionais prestavam serviços no Caminho-de-ferro de Benguela (CFB), nas escolas públicas e privadas coloniais, administração portuguesa, obtendo assim os estatutos de assimilados, já à beira da independência nacional.

Este propósito continuou nas Missões Evangélicas do Dondi, Elende, Chissamba, Chilesso, Camundongo, Silva Porto, Bungei-Huila, Nova Lisboa (Huambo) e na faixa do Litoral até 1975.